Se hoje esse processo é mais transparente e mais profissional, devemos a ele e a equipe que atuou com ele na época. Parabéns, Vitor!
Dona de um portfólio de ações em 76 companhias abertas avaliado em aproximadamente R$ 75 bilhões, a Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ) formou entre seus aposentados um verdadeiro exército de conselheiros fiscais e de administração para cuidar de seus interesses nas empresas.
Na ativa, 107 aposentados estão hoje entre 226 conselheiros mantidos pela fundação no "board" das empresas. O grupo inclui funcionários ativos do BB e consultores externos independentes.
Na reserva, 1.340 potenciais conselheiros estão registrados em um banco de dados, prontos para serem acionados a qualquer momento.
Os conselheiros estão vinculados à diretoria de participações (Dipar), responsável pela gestão das "empresas participadas", aquelas em que a fundação possui assentos nos órgãos de governança ou que o valor investido corresponda a 0,25% ou mais de seu patrimônio líquido (cerca de R$ 350 milhões). Por este critério, 65 das 76 empresas são "participadas" e em 63 delas, a fundação tem assentos em conselhos, seja fiscal, seja de administração.
Aloísio Macário, gerente executivo de governança da Previ, conta que a Dipar foi criada quando a fundação começou a entrar nos leilões de privatizações de estatais como Embraer, Vale e as teles. Nas participações mais relevantes, a estratégia da fundação é carregar a posição a longo prazo, ou vender em bloco para algum investidor.
A Dipar foi estruturada em 1999 com a ajuda da Fundação Dom Cabral. "Foi uma experiência inusitada porque não há no mundo um fundo de pensão com percentuais tão altos de participação em empresas como a Previ", relata Macário.
O maior fundo de pensão do mundo, o Calpers, dos professores da Califórnia, não tem mais de 2% a 3% do capital de uma companhia quando é grande investidor, e isso tem a ver com a estrutura de capital no Brasil, ainda muito centrado no controlador individual ou familiar.
A Fundação Dom Cabral desenvolveu com a consultoria Baker Tilly um modelo com dois sistemas: um de acompanhamento econômico financeiro das empresas, com programas automatizados de análises de balanços e comparação de indicadores com o setor e concorrentes, e outro de acompanhamento dos conselheiros.
Um profissional que participou da montagem do sistema de acompanhamento do trabalho de conselheiros e hoje está em outra empresa (por isso pediu para não ser identificado) disse que o modelo permite a seleção de conselheiros de acordo com a necessidade de cada empresa, identificando, por exemplo, um advogado para atuar no conselho de uma companhia em Porto Alegre, ou um auditor para acompanhar uma empresa no Rio de Janeiro.
Macário explica que a escolha de aposentados para compor esse grupo se deve a que os bancários do Banco do Brasil estão no mínimo familiarizados com análise de balanços, contabilidade, finanças. Além disso, diz o gerente, têm interesse em zelar pelo patrimônio que é deles mesmos.
O modelo adotado pela Previ é criticado pelo economista Jorge Lepeltier, que trabalha como conselheiro profissional independente em várias empresas há 18 anos. Para ele a atuação de conselheiros não pode ser mercado cativo para uma única categoria, dos funcionários e aposentados do Banco do Brasil. "Sendo maior investidor institucional do país, com participações importantes em tantas empresas, a Previ deveria abrir seu processo de seleção de conselheiros a todos os brasileiros que preencham os requisitos necessários", diz Lepeltier
Dos 226 conselheiros hoje na ativa, 141 atuam nos conselhos de administração e 85 nos conselhos fiscais; 127 são titulares e o restante, suplentes. Oito são contratados fora da fundação para ocupar cargos de conselheiros em empresas nas quais a presença desse perfil de profissional seja conflitante com a companhia.
Por exemplo, a Previ não pode colocar seus aposentados no conselho do Banco Itaú ou do próprio Banco do Brasil, instituições em que a fundação é acionista com 5,72% e 10,37%, respectivamente, pelo claro conflito de interesses em ambos os casos.
O ritmo de trabalho do conselheiro é leve do ponto de vista físico, mas a responsabilidade é grande, o que exige pessoas com maturidade e experiência.
Fonte: Valor Econômico de 28.06.2010