Como o assunto da semana é a crise financeira e seus impactos no resultado da Previ, eu gostaria de compartilhar com vocês um texto escrito por dois técnicos da Previ que analisam a crise atual, comparando-a com as anteriores e seus impactos nos nossos investimentos. Eu acredito que este texto nos dará uma boa base para discutirmos o assunto, até porque não dá para pensarmos que o Brasil e a Previ estão imunes à crise mundial.
"A crise, que teve início no mercado de empréstimos imobiliários norte americano, colocou em cheque instituições financeiras em todo o mundo e ameaça a credibilidade do sistema financeiro.
O agravamento da crise financeira internacional dá início a um pânico generalizado que pode ser assustador e até levantar teorias sobre rupturas ou mesmo o fim de uma era. A sensação de perder o chão é grande, pois sem os referenciais de preços, os ativos tornam-se ilíquidos e depreciam-se rapidamente no curto prazo. Mas a vida segue seu curso e se adapta ao novo tempo.
É bom lembrar que o pico da crise é momento de revisão de expectativas, é quando o mercado se acalmar que se saberão quem são os perdedores e ganhadores. Ou seja, a crise é um momento de riscos e oportunidades, como dita o ideograma chinês.
Entretanto, o que estamos vivendo é mais do que uma crise financeira. É um pânico que se instalou no mercado, com corrida de correntistas a bancos e quebra de diversas instituições financeiras. Isso recrudesce a função alocativa do sistema financeiro, reduzindo a propensão a emprestar e traz conseqüências danosas para o lado real da economia, acionando um ciclo recessivo, com redução dos planos de investimentos das empresas, redução do consumo das famílias e até mesmo redução dos postos de trabalho.
O lado mais visível da crise é percebido pelos investidores e poupadores, que são instituições que abriram mão do consumo presente e canalizaram recursos financeiros para a compra de títulos e papeis indexados, com o objetivo de maximizar o consumo e qualidade de vida em uma data futura.
Destaca-se que estes ativos em que as pessoas e as instituições investiram dinheiro estão se depreciando, pois as expectativas estão sendo revistas frente a uma maior percepção de risco e, conseqüentemente, acionam o ciclo vicioso de uma recessão, onde o poupador não aplica dinheiro no banco, pois ele pode quebrar, o banco não empresta dinheiro para as empresas, pois o risco de inadimplência foi elevado, a empresa reduz a venda a prazo, pois a percepção de risco do comerciante foi elevada, o comerciante eleva a taxa de juros na venda a prazo e reduz o número de prestações, pois o cliente pode ser despedido a qualquer momento; o cliente reduz a suas compras, pois a sua confiança na economia foi reduzida e os investidores vendem seus ativos antes que este quadro se configure, pois acreditam que mais à frente vão poder refazer suas posições com lucro. Neste quadro as quedas de bolsas são freqüentes e o quadro sistêmico de pânico e crise alastram-se por todos os mercados.
E o que a história nos ensina? Ensina que depois da tempestade vem a bonança. Primeiramente para aproveitar dos bons frutos de um novo ciclo de crescimento, de um período de bonança, é preciso sobreviver à crise. É preciso saber que ajustes podem causar traumas e retardar o início do período de retomada do crescimento, e importante estar preparado para significativas mudanças que podem se implementadas pelos reguladores dos mercados.
Recordando: foi após o início de crises que grandes mudanças aconteceram, tais como: o fim do bi-metalismo no século XIX, a criação do FED na crise da primeira década do século XX, a ruptura das visões clássicas do Estado mínimo em 1930; o fim da livre conversibilidade do Dólar com o acordo de Breton Woods; a redução do intervencionismo estatal para debelar a estagflação norte-americana da década de 1970; restrições ao livre transito de capitais não identificados após o 11 de setembro.
É de se esperar que medidas severas sejam tomadas com a intenção de restabelecer a confiança no sistema, podendo em níveis mais fortes observar alguns países estatizando os sistemas financeiros e congelando o fluxo de capitais a exemplo da Islândia.
A gravidade da atual crise e suas repercussões faz com que este momento seja comparado com a maior crise enfrentada pelo sistema capitalista no século XX: a crise de 1929. Entretanto uma diferença clara em relação a 1929 nos permite acreditar que o mundo não enfrentará uma situação nem mesmo próxima à daquela época. A atuação conjunta das autoridades monetárias, sobretudo nos Estados Unidos (Federal Reserve) e na Europa (Banco Central Europeu e Banco da Inglaterra), injetando liquidez no sistema e garantindo depósitos nos bancos, são algumas das medidas que mostram que os governos estão tentando de todas as formas reduzir os impactos da crise.
E como ficam nossos investimentos no meio de toda esta turbulência?
As ações, que representam mais de 60% da carteira de investimentos da Previ, sofreram bastante nestes últimos meses. Se compararmos o topo histórico registrado pelo Ibovespa (73.516 pontos em 20/05) com o fechamento da última sexta feira, dia 17/08 (36.400 pontos), a queda ultrapassa os 50%. Não podemos afirmar se atingimos ou não o “fundo do poço” no mercado acionário, mas é razoável supor que após a grande volatilidade das bolsas nestes últimos meses, o mercado acionário deve começar a se acomodar e aguardar os efeitos reais da crise nos resultados das empresas.
À medida que tivermos sinais de que a economia começa a se recuperar, esperamos uma melhora nos preços das ações. Portanto, a profundidade da crise e sua duração no lado real da economia, são variáveis chave para calcularmos o comportamento de nossos investimentos em renda variável, sempre tendo como premissa nossa visão estratégica de investidor de longo prazo.
Portanto a dúvida que fica daqui para frente é como isso repercutirá na chamada economia real – emprego, renda, consumo, investimentos, etc... Muitos economistas, apesar de não terem uma visão ainda clara dos desdobramentos na economia real, acreditam que as economias americana e européia enfrentarão uma recessão no primeiro semestre de 2009. Apesar de mais fortalecidos, os países emergentes fatalmente experimentarão um crescimento mais lento no próximo ano. A expectativa é a de que a partir de 2010 a economia americana já demonstre sinais de melhora e retorne a um período de crescimento."
Fonte: Victor Luis de Almeida Vohryzek e Marcos Oscar Tisser